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domingo, 12 de agosto de 2007

As flores que bordei

A noite passada ela se deixou cair no vão entre a rua asfaltada e a calçada. Na velha sarjeta.
Mais uma vez a dor implacável pegou seu peito e massacrou sem dó. A mesma dor que faz visitas rotineiras.
Na manhã seguinte, o resto da dor estampava-se em seus olhos tornando-os ainda maiores e seguiam espantando as pessoas que cruzavam seu caminho nos corredores do prédio onde trabalha.
As perguntas foram muitas e as respostas vagas.
O dia passou como uma folha de papel em branco que voa com o vento no final do bimestre pela rua suja da cidade.
A noite chega e ela sente um lampejo de sua alma quando para na porta da cozinha.
Seguiu para o quarto a procura de pedaços de tecidos velhos coloridos
, tesoura e da linha de bordar que estava escondida no maleiro do guarda-roupas.
Com lágrimas nos olhos e sem querer saber de mais nada, nem da Paula e do Daniel da novela das oito, bordou as flores mais lindas nas pernas de sua calça de sarja queimada pelo ferro de passar roupas.
No dia seguinte, como quem encontrou a paz, seguiu para o trabalho com seus cabelos armados, desfilando as flores que brincavam em suas pernas, mãos e com sorriso de volta.

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