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sábado, 10 de novembro de 2007

Crocodilo

Marina foi a loja de calçados comprar os sapatos que tanto desejou. Era uma mulher vaidosa, aparentemente forte e independente. Tinha em sua vida profissional o princípio de tudo, e se presenteava com pequenos mimos quando desejava se sentir melhor.
O mimo da vez era um par de sapatos de couro de crocodilo.
Ainda na loja, Marina colocou os sapatos para ver se realmente concluía a compra.
O verde amarronzado brilhante e cheio de estilo do par de sapatos, a fez pensar em questões filosóficas descabidas naquele momento.
“Réptil de grande porte que vive nas águas doces e se transformou em um par de sapatos?”.
Lembrou-se que naquela tarde, negociava um grande e lucrativo contrato, fruto da vitória sobre um concorrente irritante, que a fez trabalhar dia e noite pensando em soluções criativas para ganhar a disputa.
Com a lembrança destes dias passados, se olhou no espelho da loja.
Marina se fez crocodilo, crocodilo se fez Marina.
Viu-se com olhos famintos, sedentos. Seu corpo comprido, pesado, suas unhas longas e firmes.
Marina venceu, matou sua fome.
Saiu da loja com a sacola de grife, sem a mesma satisfação que sentia a minutos atrás.
Marina seria reduzida agora a um par de sapatos?
Pensou no depois, do depois e o depois?
Sentia-se vazia, nas margens do lago lamacento, agora a vitima.
Marina não tinha depois, Marina era uma predadora e nada mais!

Texto publicado nos Anjos de Prata.

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